Ivan Tadeu Ferreira Antunes Filho, 17, é um prodígio.
Entre 13 de julho e 14 de agosto, emendando uma competição na outra,
ganhou na Estônia a medalha de ouro na Olimpíada Internacional de
Física, a prata na Olimpíada Internacional de Linguística, na Eslovênia,
e no Rio, a prata na Olimpíada Internacional de Astronomia.
O garoto disputou com a elite dos estudantes do planeta. A prova
individual de linguística, uma das mais interessantes, exigiu a
resolução de problemas a respeito de cinco línguas: dyirbal, umbu-ungu,
teop, rotuman (diferentes idiomas da Oceania) e basco (da região
espanhola). A prova em grupo versou sobre o tai-kadai, do sudeste
asiático e do sul da China.
Antes que alguém se assuste, Ivan já explica: "Não, eu não tinha de conhecer essas línguas previamente". Ah!
O estudante Ivan Antunes, 17, com medalhas após ganhar Olimpíadas de física, astronomia e linguística |
"É competição de lógica. Você tem de perceber os padrões do uso da
língua." Uma questão clássica: fornecem-se ao estudante duas listas, uma
com frases em uma língua desconhecida; outra, uma lista de traduções.
"Só que elas não estão ordenadas e uma das traduções está errada", diz
Ivan. O desafio é descobrir qual tradução está errada, fazer a
correspondência das traduções e apontar o erro da tradução.
A medalha de prata que Ivan trouxe é a primeira conquistada pelo Brasil na história dessa competição.
Filho de médicos de Lins (429 km de São Paulo), Ivan começou a disputar
olimpíadas na quinta série. Com 14 anos, foi sem os pais para o
Azerbaijão participar de sua primeira prova internacional.
Visitou dez países graças às competições. A viagem para a Disney com a
família estava marcada, mas, na mesma data, apareceu uma semana de
matemática em São José do Rio Preto (443 km de São Paulo). Adeus,
Disney.
SOLTEIRO
Hoje, Ivan vive em São Paulo, em uma pensão vizinha ao Colégio Objetivo
Integrado, onde estuda. Está "solteiro", diz. A família mora em Lins.
Ivan não se acha superdotado. "Qualquer pessoa que se dedique como eu
conseguirá resultados iguais." A memória também não é excepcional.
"Costumo esquecer os nomes das pessoas."
O segredo do sucesso? "Ser um campeão olímpico depende de curiosidade, planejamento, interesse e dedicação verdadeira", afirma.
O dia começa às 7h10, quando entra na escola. Vai até as 12h50, saída
das aulas. À tarde, o jovem estuda por até seis horas. Mas têm dias em
que o esforço se limita a ler 20 páginas de algum livro.
Sem rotinas férreas, recomenda que se tracem objetivos claros. "Tipo:
quero acabar esse livro até tal data. Algumas metas têm de ser de longo
prazo. Para ir à Internacional de Física, comecei a estudar um ano e
meio antes."
Para aqueles que se acham modelos de dedicação infrutífera, Ivan tem
duas hipóteses: "Ou são pessoas que pensam que se dedicam, mas não se
dedicam tanto, ou se dedicam usando estratégias de aprendizado
inadequadas."
Ele dá um exemplo de "estratégia inadequada". Durante o treinamento para
a Olimpíada de Linguística, Ivan percebeu que estava estagnado. "Os
professores diziam que deveríamos conhecer as teorias antes, mas para
mim não funcionou."
Em vez de desistir, o jovem criou seu próprio método. "Para mim, foi
muito melhor fazer as provas passadas, lendo a resolução e anotando
todos os pontos importantes."
A lição que extraiu: "Existem estratégias que funcionam para algumas
pessoas, e outras que funcionam para outras. Você tem de descobrir a que
funciona para você".
Ivan se preocupa com a fama de "egoístas" que cerca alunos "olímpicos"
como ele. Há dois anos, mantém com amigos o endereço
www.olimpiadascientificas.com, com dicas de estudos. "Também tiramos
dúvidas", diz. "É nossa forma de ajudar."
O menino que pensa em estudar em Harvard, Oxford, Princeton, MIT ou
Cambridge - "As suas chances de ser aceito aumentam muito se você vencer
uma olimpíada internacional", escreveu ele no site- não tem ainda a
menor ideia de qual carreira seguirá. "Eu gosto de tudo, não consigo
decidir o que fazer."
Fonte: Folha de São Paulo
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